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terça-feira, 18 de novembro de 2008

O charme de esconder o olhar


Estigmatizado quando os mafiosos passaram a usá-los e os generais golpistas da década de 60 na América Latina, não foi para eles que o tenente MacCready, da Força Aérea Americana, montou a empresa Bausch & Lomb, para que os primeiros óculos escuros fossem inventados. O militar sofria de náuseas e dores de cabeça, provocadas pelo brilho do sol acima das nuvens.

Isso levou-o, nos idos dos anos 20, a fazer surgir um óculos com lentes de cristal, verdes-claras, que filtravam os raios infravermelhos e ultravioleta. Depois, o modelo foi aperfeiçoado com um aro de metal banhado a ouro, que recebeu o nome de anti-glare, ou seja, antibrilho, que viria a ser o que hoje é conhecido como Ray Ban (raio, banir). No começo, o seu uso era quase restrito às forças armadas americanas, mas não demorou muito para que a Basucj & lom, avaliando o grande potencial de vendas, o jogasse no mercado, o que aconteceu no dia sete de maio de 1937.

Logo passou a ser um símbolo de status, emoldurando muitos personagens históricos, como MacCready, o segundo homem a voar sobre o Atlântico, sem escala. Isso, além de se tornar o preferido dos grandes astros de cinema. Já na década de 40, os policiais o adotaram como acessório, tanto quanto as suas armas e distintivos. Mas, 10 anos depois, as gangues americanas o transformaram em instrumento de contestação, até que, no fim da década de 70, com o surgimento de muitas versões piratas, o uso de Ray Ban se massificou.

Até mesmo as mulheres passaram a usá-lo, como mais uma conquista na época do Women´s Lib. Hoje, a marca já não é usada pelos pilotos, que preferem mais o American Optical, por se adaptar melhor ao capacete.

O general Douglas MacArthur e Jean Paul Belmondo foram alguns dos muitos homens famosos que incorporaram o Ray Ban como parte do seu vestuário. Seu uso pela elite mundial fez com que surgissem novas marcas, com diversos designs. E passaram a se destacar marcas como Vuarnet, Bollé, Bosani, Flexus e Personal.

Também estilistas como Paco Rabane, Ted Lapidus, Féraud, e Saint-Laurent entraram na disputa do mercado, produzindo modelos de luxo. Christian Dior foi mais longe, desenhando, para o verão de 1970, um óculos de sol com armação de diamantes, safiras, ametistas e rubis, que custava uma fortuna na época - US$ 22 mil. Só que o modelo pirateado podia ser comprado ao preço de US$ 250...

Mas os óculos escuros, dependendo do estilo, também conferem uma imagem de virilidade. Não é por acaso que atores como Sylvester Stallone e Arnold Scwarzenegger colocam um par de lentes escuras sobre os olhos, quando têm que interpretar um vilão.

Já para os desportistas, estilo futevôlei, a Bausch & Lomb produziu a linha Xrays, com desenhos próprios para vários tipos de esportes. Suas hastes são de Mego (uma borracha resistente e flexível), com lentes de policarbonato, um material resistente a choques, arranhões e com uma grande resolução óptica, além de proteção contra os raios ultravioleta.

Alguns astros do rock usaram óculos de sol como escudo, para esconder a timidez. Os casos mais conhecidos são o de John Kay, do Steppenwolf, e Ian Hunter, do Mott The Hoople. Kay afirmava que só conseguia soltar sua alma com as lentes, e Hunter não suportava ser encarado pela platéia. Lou Reed, outra lenda do rock, chegou a atribuir aos óculos a força de que precisava para se libertar da rebeldia.

John Lennon não se enquadrava nessas situações, mas também não dispensava os óculos redondos com aro de metal. O estilo acabou levando seu nome, mas, antes dele, outros nomes famosos como Trotsky, Heminggway e Molotov já os haviam usado.

Apesar do surgimento oficial constar do século passado, existem protótipos de óculos de sol que datam do século XIX. Nele, a designer Eiko Ishioka inspirou-se para compor o figurino de Gary Oldman no filme Drácula, de Coppola. Vestido como um janota, o ator usa óculos com lentes azuis, em uma fina armação de metal, quando se prepara para chupar a carótida de Winona Ryder. Uma réplica exata do primo vitoriano, a peça traduz a pompa de uma época.

Os ingleses, porém, ignoravam que lentes azuis não filtram a radiação solar. De acordo com oculistas, junto com as pretas e as amarelas, elas causam pressão ocular e aumentam a deficiência visual. Essas cores permitem a passagem de 95 a 99% dos raios solares. As mais indicadas são as verdes e as marrons. Outro detalhe que não deve ser ignorado é a escolha do formato que melhor se adapte ao rosto, à cor dos cabelos e à tez.

Mas o mais importante é sentir-se bem, porque, no fundo, o desejo de quem usa óculos de sol, além de proteger a vista, é o de proclamar a identidade e ao mesmo tempo apresentar um disfarce, como garantem os psicólogos.

Ou como afirma Herbert Vianna, em sua música que fez tanto sucesso: “Por trás dessas lentes tem um cara legal!”


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