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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Abrindo os olhos para o mundo

Até pouco tempo atrás se acreditava que os recém-nascidos não podiam ver nada. Atualmente, com o advento de novos métodos de investigação, sabemos que eles podem enxergar perfeitamente, mas com pequenas limitações que iremos explicar a seguir.

Alguns bebês nascem com os olhos muito abertos, como se quisessem ver onde acabaram de chegar, parecem estar explorando este novo mundo que se descortina a sua frente. De fato, poucos minutos após o nascimento, já reconhecem alguns detalhes e, se uma luz clara os ofusca, fecham com força os seus frágeis olhos. Apesar disso, os olhos dos recém-nascidos não estão treinados para ver e, de todos os sentidos existentes no ser humano, a visão é o menos desenvolvido nesta fase da vida. Na fase intra-uterina, o único estímulo óptico que o bebê recebe é a diferenciação entre claro e escuro. Além disso, as vias nervosas que estabelecem a comunicação do olho com o cérebro do recém-nascido ainda precisam amadurecer, passando pelo processo de desenvolvimento ou plasticidade visual. Inclusive, mesmo que já estivessem desenvolvidas de todo, o bebê não tem experiência alguma sobre como classificar uma imagem. Aprende, porém, todas estas coisas "vendo", pois começa a descobrir o mundo principalmente através da visão.
No nascimento, a córnea e o cristalino do olho ainda não alcançam sua plena capacidade refrativa, mas a visão melhora dia a dia com o avanço da plasticidade; lembrando-os da importância refrativa destas duas estruturas oculares. Nos primeiros dias, a criança vê tudo de modo plano e não tridimensional, mas, com três semanas de vida, já levanta a mão num gesto de defesa se um objeto se aproxima rapidamente em direção aos seus olhos.

Um recém-nascido não pode focalizar bem as pessoas ou os objetos situados a uma certa distância. Irá vê-los sem nitidez e um pouco embaçados. Entretanto, pode ver claramente tudo o que está a menos de 20 a 30 cm de distância. Esta distância óptica na capacidade visual do bebê não é ao acaso, corresponde à medida entre seu rosto e o da mãe quando esta em seus braços. As mães costumam aproximar instintivamente seu rosto ao do bebê até alcançar esta distância, é a sábia natureza associada a óptica!
Todos os recém-nascidos sentem curiosidade pelo mundo à sua volta e tentam captá-lo com seus sentidos, principalmente com os olhos. Desenhos complicados chamam mais a atenção que as superfícies com cores e padrões planos. O bebê olhará para o seu chocalho roxo ou vermelho enquanto não tiver outra coisa mais interessante à vista. Mas se lhe mostrarmos um tabuleiro de xadrez de quadrados brancos e negros (padrão reverso de contraste) ele se fixará nela, através do fenômeno que denominamos olhar preferencial.

A partir do segundo ou do terceiro mês, o bebê vai percebendo os objetos com mais nitidez, até conseguir diferenciar bem os pequenos detalhes que o objeto propõe aos quatro meses. De modo semelhante, desenvolve-se a capacidade de olhar e de diferenciar rostos. Estudos realizados na fisiologia comportamental demonstram que quando o bebê olha o rosto da mãe ou o de outra pessoa que se aproxima dele, seu olhar desce do início do cabelo até os olhos, onde permanece por algum tempo, depois se fixa no queixo e volta a subir até os olhos. Uma criança de dois meses já sabe distinguir rostos de verdade de outros desenhados. Poucas semanas mais tarde, aproximadamente aos quatro meses de idade, reconhece os pais, sorri para eles francamente e lhes dá preferência entre outras pessoas.

Pode acontecer de os recém-nascidos ficarem um pouco estrábicos ocasionalmente, pois ainda não controlam bem os músculos extrínsecos do olho. Esta debilidade muscular se deve ao fato de que o bebê, no útero, não tinha um ponto fixo para treinar o ajuste da visão com a cooperação dos músculos oculares. Estes músculos vão demorar ainda entre quatro e seis semanas para ganhar força, de forma que possa ver de maneira coordenada com ambos os olhos. De qualquer maneira, comprovou-se que, desde o dia do nascimento, os bebês demonstram maior interesse em contemplar visualmente uma superfície estampada que uma lisa e, depois de poucos dias, já seguem com os olhos o movimento de uma luz. Quando se mostra um retrato de um rosto humano e um quadro sem figuras e em branco, o bebê é capaz de girar sua cabeça para seguir o retrato do rosto.
O desenvolvimento da estereopsia (percepção espacial) produz-se de modo semelhante. Nos últimos anos foram feitos diversos estudos para analisar e pesquisar a capacidade visual dos bebês. Por exemplo, colocaram-se sobre uma mesa de vidro alguns bebês que já engatinhavam. A mesa estava pintada com um desenho de azulejos brancos e pretos que continuavam no piso. O vidro cobria não só a mesa, mas também a superfície pintada da mesma maneira (mesa e piso). Quando um dos bebês engatinhou sobre o vidro até a borda da mesa, se assustou diante do suposto "abismo". Esta "dica" foi possível graças a percepção de profundidade (estereopsia), parte integrante do que chamamos Visão Binocular que começa a formar-se na idade de quatro meses (no caso da estereopsia).

Por volta desta mesma idade, a criança, ao descobrir o mundo, começa a testar a interação entre mãos e olhos. Leva algumas semanas olhando os dedos com certa curiosidade. Estende a mão em direção a algum brinquedo ou objeto de interesse, tenta medir a distância entre a mão e o objeto, alternando o olhar entre este e aquela, e vai repetindo o gesto e tateando até tocar o brinquedo.
Um recém-nascido não distingue as cores. Primeiro parecem sombras mais ou menos escuras, já que os cones de sua retina ainda devem crescer. Paulatinamente, vai reconhecendo primeiro o vermelho, depois o azul, seguido pelo verde e, finalmente, o amarelo. Já percebe matizes com alguns meses de idade e, aos dois anos, tem o aparelho visual plenamente desenvolvido. Crianças de poucos meses submetidas a uma experiência demonstraram mais interesse pelas cores vermelha e azul. Também preferem as cores puras às que se apresentam mescladas.

A importância das impressões ópticas para o recém-nascido foi demonstrada pelo fato de os bebês que são carregados nos braços ou no colo durante muito tempo apresentarem uma atividade visual muito mais alerta que outros que permanecem mais tempo deitadas. Espero ter demonstrado o quanto é importante à estimulação visual de nossos bebês desde o nascimento.
Prof. Leandro Rhein
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